Sunday, January 01, 2006

Ogivas nucleares "repousam" ao largo das ilhas açorianas

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Expresso das Nove
By Ruben Medeiros
September 17, 2004


USS Scorpion (SSN-589).

Um submarino nuclear americano está afundado a 640 quilómetros dos Açores. Há 36 anos que os seus destroços repousam no fundo do mar sem que se saiba que perigos podem advir deste facto.

O caso continua envolto em mistério e secretismo. Há já algumas dezenas de anos que os habitantes do arquipélago podem estar expostos aos perigos da radioactividade sem que disso tenham real consciência.

O afundamento do USS Scorpion, submarino nuclear norte-americano, ao largo da Zona Económica Exclusiva açoriana, é, inclusivamente, desconhecido por várias personalidades políticas e científicas regionais.

Cerca de 400 milhas a sudoeste dos Açores encontra-se depositado no fundo do mar o que resta do submarino norte-americano USS Scorpion. Mas, mais importante do que isso é o facto de nunca terem sido retiradas dos destroços as duas ogivas nucleares nem os reactores nucleares que o submarino transportava à data do seu afundamento (22 de Maio de 1968).

Apesar do material estar localizado em águas internacionais, as autoridades norte-americanas têm impedido, até hoje, que outros estudiosos tenham acesso ao local e possam efectuar investigações.

Numa das últimas grandes avaliações levadas a cabo por cientistas dos Estados Unidos, há quase vinte anos, em 1986, a conclusão não poderia ter sido mais lacónica e intranquila: não está provado que haja perigo de libertação de material radioactivo. No entanto, também ninguém pode assegurar a 100% que tal não venha a acontecer ou já tenha acontecido.

Esta é uma resposta insuficiente face aos reais perigos - depositados a 3.048 metros de profundidade - que estão aqui em causa. E, até à data, mais de três décadas volvidas sobre o misterioso desaparecimento do submarino nuclear, a esmagadora maioria da documentação existente sobre o USS Scorpion continua classificada como secreta pelas autoridades militares norte-americanas.

Até ao momento, desconhecem-se as verdadeiras causas que levaram ao afundamento do Scorpion. No entanto, sabe-se que o nome do submarino é citado no pior escândalo da história da secreta norte-americana, a célebre CIA (Central Intelligence Agency) - no famoso caso Walker (ver na página seguinte).

Apesar deste dossiê ser desconhecido por grande parte da opinião pública, também há cientistas da Universidade dos Açores que têm conhecimento do caso. Alguns estabeleceram contacto com a armada americana, a fim de obter mais dados, já que os destroços estão localizados numa região vulcânica.

A informação recebida foi parca e adiantava que regularmente são feitas monitorizações no local do incidente para detectar se o material nuclear está ou não a ser corroído. Para além disso, a armada norte-americana já afirmou que os reactores utilizados em todos os submarinos e navios com origem em terras do tio Sam são concebidos para minimizar o impacto no meio ambiente em caso de acidente.

O que não deixa completamente tranquilo quem tem conhecimento do caso. Aliás, o EXPRESSO DAS NOVE apurou que há quem, na comunidade científica, admita a hipótese dos elevados índices de mercúrio detectados, há alguns anos, em determinadas espécies piscícolas, estarem directamente relacionados com o Scorpion.

Uma hipótese meramente académica, mas que, no entender de especialistas, não deve deixar de ser levada em conta.

A nossa reportagem tentou obter reacções de vários cientistas nacionais conhecedores do problema, bem como de diversos organismos oficiais, mas nenhuma das pessoas ou entidades contactadas aceitou prestar declarações sobre tão controverso, polémico e secreto dossiê.

Curiosamente, apesar de serem vários os que afirmam desconhecer a existência do USS Scorpion, a nossa reportagem apurou também que o mesmo já foi alvo de um trabalho académico realizado na Universidade dos Açores, no âmbito da disciplina de Poluição do departamento de Biologia. No entanto, todos os esforços encetados no sentido de contactar os autores do referido trabalho não foram bem sucedidos.

Governo Regional conhece o casoO afundamento do submarino norte-americano, bem como o facto do material nuclear que este transportava a bordo nunca ter sido retirado do fundo do mar são dados que o Executivo Regional conhece.

Contactada pelo EXPRESSO DAS NOVE, fonte da Secretaria Regional do Ambiente adiantou que em 1993 a tutela recebeu um relatório com informação sobre o caso Scorpion, remetido pelo então Ministério do Ambiente.

No documento, eram citadas as conclusões do trabalho realizado em 1986 pelas autoridades americanas, as quais afirmavam que não tinham sido detectados quaisquer vestígios de contaminação radioactiva na zona do acidente.

A mesma fonte garantiu-nos ainda que das análises periódicas que são feitas às águas junto à costa e nas zonas balneares nunca foram detectados valores anormais ou que indiciassem qualquer atentado ambiental. O dossiê Scorpion está sob a responsabilidade do Governo da República. No entanto, o caso não parece merecer grande atenção do Executivo central.


Lançamento à água do Scorpion.

A última missão do submarino USS Scorpion
Ninguém desconfiava da arma poderosa que os inimigos russos detinham: os códigos utilizados pelos submarinos americanos. A informação havia sido passada por Walker, um oficial da marinha norte-americana, que protagonizou o pior escândalo de espionagem do País e que poderá mesmo ter conduzido o Scorpion ao fundo do mar.

Desde o início da actividade, em 1959, que o submarino norte-americano navegava nas profundezas do mar vigiando os navios russos. A bordo do USS Scorpion seguia uma experiente equipa de marinheiros, entre os quais intérpretes de russo que interceptavam e traduziam as informações transmitidas pelos militares inimigos a outras unidades em terra.

A 17 de Maio de 1968, o USS Scorpion efectuou a sua última missão. Após três meses de serviço no Mediterrâneo, os militares preparavam-se para regressar a casa quando o comandante recebeu novas ordens. As ilhas Canárias eram o próximo destino.

A missão era clara: vigiar um grupo de embarcações soviéticas. O submarino demorou cinco dias numa viagem que terminaria, de forma abrupta, ao largo dos Açores, onde permanecem, ainda hoje, os respectivos destroços.

Os 99 tripulantes que iam a bordo morreram. Contudo, dois militares que faziam, inicialmente, parte desse grupo, e que, no entretanto, haviam saído do submersível, permanecem vivos.

O EXPRESSO DAS NOVE também tentou falar com um deles, mas até ao fecho da nossa reportagem não obtivemos qualquer resposta de Alan Stricklind, ex-membro da tripulação.

Nunca se chegou efectivamente a saber como ocorreu este desastre. Inicialmente, especulou-se que tinha sido um dos dois torpedos transportados pelo Scorpion a causar o afundamento.

No entanto, esta teoria foi rapidamente abandonada fruto de uma segunda investigação que encontrou as duas armas nucleares intactas no fundo do mar.

O caso continua a ser considerado pelo Pentágono como “top secret”. E há mesmo quem defenda a hipótese de o afundamento do Scorpion ter sido desencadeado pelas próprias autoridades norte-americanas em virtude dos soviéticos terem um alegado conhecimento pormenorizado acerca da embarcação norte-americana.

Outra teoria avançada revela que o afundamento do submarino poderá ter sido causado por um incidente com um submarino russo que, na altura, também se encontraria no local, mas nada disso é confirmado, quer pelas autoridades norte-americanas quer pelas russas. A última vez que se soube do submarino foi a 17 de Maio.

Cinco dias depois deu-se o afundamento. Foram necessários mais de cinco meses para detectar a respectiva localização.

Ainda hoje há quem defenda, quer nos EUA quer na ex-URSS, que com o afundamento do Scorpion ficou também guardado um dos maiores “segredos” da Guerra Fria, razão pela qual actualmente - mais de 36 anos depois - as autoridades russas e norte-americanas continuam a considerar o Scorpion um assunto da mais alta confidencialidade.

USS Scorpion links (1, 2, 3)

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