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U-1277By
Luis MotaFevereiro 03, 2006
O submarino U-1277 foi construído nos estaleiros da Bremer Vulcan em Bremen - Vegesack, e lançado à água a 6 de Agosto de 1943. O seu comando foi entregue ao Oberleutnant zur See Peter-Ehrenreich Stever a 3 de Maio de 1944. Stever foi promovido a Kapitänleutnant a 1 de Janeiro de 1945.
Era da classe VIIC41, pertencia à série 1271 e tinha originalmente 67.23 metros de comprimento, 6.20 metros de pontal, 4.74 metros de boca e 9.55 metros de altura máxima. Para se deslocar utilizava dois dos quatro motores disponíveis (dois a diesel e dois eléctricos) que geravam uma força de 3200hp com velocidade máxima de 17.6 nós à superfície e 750hp com velocidade máxima de 7.6 nós submerso.
Deslocava 769 toneladas à superfície e 871 toneladas quando submerso. Tinha um raio de acção de 8500 milhas a 10 nós à superfície, 130 milhas a 2 nós submerso, 3250 milhas a 17 nós à superfície e 80 milhas a 4 nós submerso. A sua profundidade operacional máxima situava-se perto dos 240 metros a qual atingia num tempo máximo que variava entre os 25 e os 30 segundos, e tinha uma capacidade de armazenar 113.5 toneladas de combustível.
Estava equipado com quatro tubos de lançamento de torpedos à proa, dois a bombordo e dois a estibordo, e um quinto à ré (todos de 533mm), transportando um total de 14 torpedos. Possuía também, no exterior, artilharia anti-aérea constituída por um canhão automático de 37mm e quatro metralhadoras de 20mm equipadas aos pares.
A vida a bordo destes submarinos era difícil, num espaço reduzido viviam durante meses, em média, de 50 a 55 homens, que constituíam a tripulação do navio. Apenas havia duas casas de banho para todos, das quais uma, no início de cada campanha, se encontrava cheia de mantimentos, pelo que apenas uma das casas de banho servia os 50 homens. Não havia duche, não havia médico a bordo, a água potável era racionada e, conforme as águas por onde navegasse o submarino assim era a sua temperatura no interior, ou seja, se navegassem nas águas geladas do Mar do Norte, no interior do submarino fazia muito frio e se navegassem mais a sul, junto ao equador, o interior do submarino era muito quente, o que provocava nos tripulantes irritações na pele e alergias.
O submarino foi integrado na 8ª flotilha na qual funcionou como navio de instrução e experiências até que em Fevereiro de 1945, dada a escassez de submarinos de combate, foi transferido para a 11ª flotilha de submarinos da Marinha de Guerra do Reich comandada por Fregattenkapitän Heinrich Lehmann-Willenbrock (segundo a contar da esquerda na foto), um herói condecorado com a Cruz de Ferro de 2ª classe (1940.04.20), Cruz de Ferro de 1ª classe (1940.12.31), Ubootskriegsabzeichen (1941.01.02), Cruz de Cavaleiro (1941.02.26) e Cruz de Cavaleiro com Folhas de Carvalho (1941.12.31), cujo palmarés somava 22 navios afundados num total de 166.596 toneladas.
A 11ª flotilha era uma flotilha de combate com base em Bergen, Noruega. Fora fundada a 15 de Maio de 1942, sob o comando de Korvettenkapitän Hans Cohausz. A maioria dos submarinos desta base operava no Mar do Norte. Em Setembro de 1944, quando os submarinos de bases francesas alcançavam a Noruega, a flotilha foi reorganizada e, em Dezembro do mesmo ano, o comando entregue a Heinrich Lehmann-Willenbrock. Operavam nesta flotilha quase 180 U-boots das classes VIIC, VIIC41, XXII e XXIII. O primeiro submarino da classe XXI, o U2511 (submarino do meio na foto acima), executou a sua primeira missão nesta flotilha. A história da 11ª Unterseebootsflottille acaba em Maio de 1945, com a rendição da Alemanha.
A missão do U-1277 era, após ter largado de Bergen (foto acima - Bergen - ano 1945), rumar ao Atlântico, via Estreito da Islândia, e patrulhar a entrada do Canal de Mancha. A tripulação só soube do seu destino quando alcançaram mar alto e abriram o envelope selado com a missão atribuída, entregue ao comandante momentos antes da partida do submarino. Era, como chamavam na Werhmacht, “uma missão de ir para o céu”, ou seja, sem retorno. Todos os homens a bordo do submarino tinham consciência do seu destino.
Durante a II Guerra Mundial serviram nos U-boots 40.000 marinheiros alemães.
30.000 nunca regressaram.
Deixou a base no dia 22 de Abril, sob intenso bombardeamento, para a sua primeira e única patrulha como submarino de combate, submergindo logo de imediato nas geladas águas do Mar do Norte sem poder emitir qualquer sinal de rádio sob o risco de ser localizado e afundado pelas forças aliadas. A tripulação apenas recebia informação através do aparelho de rádio montado no topo do snorkel. Foi dessa forma que receberam a 4 de Maio a mensagem do Almirante Karl Dönitz, que ordenava a todos os submarinos que se encontravam no activo a suspenderem todas as acções ofensivas contra os navios aliados, desarmarem os seus torpedos, emergirem, içarem a bandeira negra e se entregassem no porto aliado mais próximo, era o início da “Operação Arco-íris”, e dias mais tarde, a 7 de Maio, a notícia da capitulação da Alemanha. A guerra terminara.
A sua tripulação era constituída por 47 homens, dos quais 4 eram oficiais - Comandante (Peter Ehrenreich Stever), imediato (Johannes Malwitz), segundo imediato (Karl Hermann Stachow) e oficial de máquinas (Ernst Engel) - 4 eram sargentos, 10 eram cabos e os restantes 29 eram marinheiros. A idade da tripulação deste submarino rondava entre os 19 e os 20 anos de idade, sendo comandante Stever o mais velho com 27 anos.
Apesar da guerra ter terminado, a saga do submarino U-1277 ainda continuava. A rendição e entrega do submarino aos aliados não faziam parte dos planos do comandante. Voltar à base naval de origem, em Kiel, na Alemanha, implicava enfrentar de novo um longo caminho pejado de navios inimigos e aviões. E uma vez chegados a Kiel, havia sempre o risco do porto ter caído nas mãos dos soviéticos, sinónimo de morte certa para qualquer soldado alemão. A Argentina era um destino provável, mas cedo abandonado, pois estava fora de alcance. A cidade de Vigo, no norte de Espanha, foi então o destino escolhido pelo comandante Stever e aprovado pela sua tripulação. Mas, devido à confusão das comunicações na altura, receberam a informações de movimentos comunistas em Espanha, o que os fez abandonar esse destino. Há 42 dias que o submarino navegava submerso, com o combustível, assim como os mantimentos, quase no fim. Portugal foi a escolha do comandante e dos seus homens pelo facto de ser um Pais neutro e se encontrar perto.
Depois de abandonar a maior parte da sua
tripulação e dos seus objectos pessoais, entre os quais se encontravam
Kurt Ernst e
Walter Herkstroeter, em balsas de borracha aproximadamente a uma milha de costa ao largo de Angeiras, Stever rumou para Sudoeste, desactivou os torpedos e distribuiu pelo navio quatro homens, entre os quais o oficial de máquinas Engel, com instruções para o afundar. Foi abandonado a 2.5 milhas de terra com os quatro tubos lança torpedos da proa, as válvulas de escape da casa das máquinas, as aberturas de ventilação da câmara de imersão e a escotilha da torre abertas, de maneira a inundar e inutilizar o submarino por completo. Os cinco homens deixaram o U-1277 na última balsa e dirigiram-se para terra. Alguns náufragos foram ajudados a chegar a terra por pescadores de Labruge e Angeiras e outros pelo navio salva-vidas “Carvalho Araújo”, que alertado se apressou a sair para o mar.
O ponto de encontro combinado pela tripulação em terra seria junto a dois moinhos que até há pouco tempo ainda existiam na praia de Labruge.
Foi voluntariamente afundado na madrugada de 4 de Junho de 1945, pelas 00h45m, ao largo do Cabo do Mundo, a norte da cidade do Porto, depois de navegar sem rumo pelo Atlântico durante um período de um mês.
Horas depois de chegar a terra a tripulação do U-1277 foi encaminhada para o castelo de S. João da Foz, no Porto, onde na altura estava sedeada uma unidade militar. Dias depois forma transferidos para Lisboa, a bordo do contratorpedeiro Diu, comandando por João Pais, e depois de entregues às autoridades aliadas foram enviados para Inglaterra, via Gibraltar, onde passaram dois anos como prisioneiros de guerra antes de regressarem a suas casas na Alemanha. O Kapitänleutnant Peter-Ehrenreich Stever permaneceu preso durante mais algum tempo, condenado em tribunal militar inglês por ter ordenado o afundamento do seu submarino.
Em Outubro de 1973 um grupo de mergulhadores desportivos acompanhados por pescadores locais mergulharam no local onde havia algo que prendia as redes de pesca. Foi com agrado que verificaram que o peguilho era o famoso submarino alemão afundado no fim da guerra. Repousa desde então a 31 metros de profundidade, num fundo de areia com a ré completamente assoreada e tombado para bombordo cerca de 45 graus. A proa, virada a sul, já desapareceu, assim como a fuselagem exterior da torre onde estava colocado todo o armamento anti-aéreo, existindo ainda os quatro tubos lança torpedos da proa. Os dois de bombordo estão caídos na areia e os dois de estibordo estão colocados no respectivo lugar.
Traçado original Casco visível actualmente
Fundo de areia 31m
Casco assoreado
O casco do navio está coberto de pequenas anémonas brancas (Sargatia elegans), as fanecas são aos milhares, os congros são dos maiores que se podem encontrar nestas águas, os enormes e curiosos polvos e a maravilhosa comunidade de anémonas rosadas proveniente do Mar do Norte são alguns dos atractivos naturais deste naufrágio. Na torre apenas se encontra o casco interior, constituído por placas metálicas soldadas de aproximadamente 22mm de espessura, o periscópio de combate e a escotilha sem tampa.
Apesar do seu estado de deterioração, o submarino U-1277 é ainda um dos pontos de maior interesse no mergulho desportivo em Portugal e o melhor do norte do Pais.
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